sábado, 25 de fevereiro de 2012

CENARIO


ANÁLISE DO CENÁRIO DO FILME REDES SOCIAIS

Serguei Eisenstein o grande mestre do cinema de vanguarda russa, autor de filmes como “O Encouraçado Potemkin”, “Que Viva México”, “Alexandre Nevski” e “Ivã, o Terrível”, também foi teórico de cinema. A sua contribuição à linguagem cinematográfica foi à ideia que ele denominou montagem das atrações cujo objetivo é produzir efeitos de sinestesia (cruzamento de sensações) e transferência (um único efeito pode ser produzido por vários elementos diferentes onde o auge aconteceria quando um elemento inesperado pudesse acrescentar um efeito necessário) no espectador. O impacto provocado por um filme dependeria mais do ritmo – dos cortes abruptos (ponto, contraponto e fusão) e não do enredo narrado.

Quando da construção do plano de composição das atrações os elementos como cenários, figurinos, as interpretações dos atores, a iluminação e o som (códigos não especificamente cinematográficos) se transformariam em “atrações” combinadas tanto de forma harmoniosa quanto conflitante. A intenção das atrações é produzir no espectador impressões psicológicas precisas. Para Eisenstein estes códigos não são menos importantes que os códigos especificamente cinematográficos como a decupagem, o cromaqui, as figuras de transição entre as cenas, a montagem. É crucial uma leitura da totalidade.

Dentro desta perspectiva de montagem das atrações procurei analisar o cenário do Filme Redes Sociais. São cenários em Clubs, em ambientes com luz de velas, quartos, escritórios, sala da direção (com ares acadêmicos), ambientes sóbrios, panorâmicos, restaurante japonês high tech, carros em movimento, quartos com colchonetes largados, salas de julgamento, casa de classe média americana, clubs, regatas, salão de festa, casa com todo mundo acessando a internet, sala de espera.

A cena inicial é num Club com dois jovens conversando sobre o relacionamento.   Zuckerbert você é um babaca e sofre de TOC. Corte: ponto. Nova atração o protagonista correndo pelo campus (os sets foram em Phillips Academy, Milton Academy e Wheelock College que serviu de locação para o campus de Harvard). Corte: contraponto. Moradia estudantil.  Corte: fusão. Cena estudantil básica uma cerveja e um computador. 9:48 horas da noite mais bebida. 10:21 horas da noite mais bebida. Um insight, um algoritmo, uma vingança com o segundo sexo. Um cruzamento de banco de dados com perfil de mulheres permitiu homens clicando e escolhendo. Eticamente o ato de comparar estudantes mulheres pelo aspecto sexual em Harvard passou a ser visto como uma infâmia, um horror machista e politicamente incorreto. Entretanto o sistema foi um sucesso um primórdio do Facebook que começou a se configurar. Este poder é extraordinário. Aquilo que a realidade da vida não permite eletronicamente é possível. O usuário tem o livre arbítrio total ele pode clicar e escolher. Hoje ele curte, bloqueia/posta e interage.

Vale anotar que a qualidade cinética do filme é muito boa. Obedece a uma sequência linear com muitos flashbacks. Há também o uso de cromaquis (efeito visual mostrando algo impossível parecer real) em cenas com os gêmeos.

CEZAR ODA


Um comentário:

  1. "Minha presença de professor, que não pode passar despercebida dos alunos na classe e na escola, é uma presença em si política. Enquanto presença não posso ser uma omissão mas um sujeito de opções. Devo revelar aos alunos a minha capacidade de analisar, de comparar, de avaliar, de decidir, de optar, de romper. Minha capacidade de fazer justiça, de não falhar à verdade. Ético, por isso mesmo, tem que ser o meu testemunho." Freire, Paulo. Pedagogia da Autonomia. 33a. Edição. Editora Paz e Terra. (pág. 98)
    As redes sociais podem ser um espaço pedagógico no contexto desta reflexão de Paulo Freire: presença, não passar despercebido, sujeito de opções, fazer justiça, ético, ser testemunho?

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